quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Tudo o que ainda pode ser


Tudo o que ainda pode ser
é o que me pega e me arrasta,
me faz olhar para onde não conheço.
E eu que só queria um recomeço.
Reconheço que você apertou minha "tecla start"

Já está bem tarde,

e eu continuo a rir,
de palavras que eu nem posso ouvir.
Imaginando os sorrisos que me dizes
Sonhamos juntos momentos felizes

E tudo o que ainda pode ser
Se manifesta em linhas curtas
aqui nesse papel imaginário as escuras.
À luz da lua, ao som da rua, à brisa pura.
A poesia que eu te dou é uma mistura
Do que há de mais simples numa noite de dezembro,
com os meus desejos, meus pensamentos...

Venha compartilhar os sentidos,
venha fazer da fantasia realidade
confeccionaremos verdades,
escrevendo histórias que eles nunca lerão
sobre sorrisos frouxos em um infinito verão

Enquanto begônias exalam perfume e beleza eu proponho
Venha com esse ar risonho
Me toque com os olhos, compartilhe seus sonhos.

sábado, 24 de novembro de 2012

Confusão e poesia

Uma levada me leva pra longe no jazz
Grafites nos papéis, histórias na parede
Um cigarro, uma gaita, uma rede
E as ideias indo e vindo no inconsciente
Sigo consciente do vento que me brisa e me conserva
No espelho observo, reflito e verbalizo o "Ser poeta":
Uma metralhadora humana
Alvejando multidões,
Com versos e flores calando seus canhões

Acho que sou um rei num castelo triste
Ou o profeta mais perdido que existe
Uma criança que põe o dedo médio em riste
Ignora a ignorância desse mundo e resiste.

Alguns abrem o coração
Outros abrem a mente
Eu abro um buraco negro no chão e enterro as minhas correntes
Planto minhas sementes, rego com o que tenho dito
Minhas palavras têm pés, têm asas e sorrisos

O que sou eu além de canalizador do dom?
O que sou além de amplificador do som?

Entro e saio desse caos de Antônios e Antônias
Planto capsulas de fuzil, mas colho begônias

Sou o caos por trás da caneta
E estou perdido em mim mesmo
Nos meus versos me olho nos olhos sem usar espelho
Quero viver em confusão e poesia com alguém
Até que o papel se rasgue e as palavras digam amém.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Sozinho; Junto...

Um cigarro queimando entre os dedos
Um comichão queimando no peito
Na camiseta o velho Chaplin desbotado
Falando de plateias e palhaços

Tudo a minha volta cheira
A olhos molhados e poeira
E tudo aqui dentro escorre pra fora
Tudo lá fora me olha.

O sofá cochicha com a estante
A cadeira rangendo a todo instante
A janela sussurra uma brisa fria pela sala
Meu violão envergonhado, se cala

Eu não me espanto,
Não falo, não olho, não me levanto
Ouço a memória de seus pés tocando a escada
E prossigo nestas linhas sobre nada.

Ponderando os caprichos do egoísmo
Uma formiga em queda-livre num abismo
Sua falta vem ter comigo esta noite
A mais bela visita de hoje.

sábado, 27 de outubro de 2012

Sorria e finja a demência



Amanhã vamos todos morrer,
Outra vez,
Lentamente.

Como sempre, morreremos nesse evento bienal
Vítimas da banalidade visceral
Dessa democracia unilateral

Não há representação democrática,
Há sim uma
Democracia representativa
Que não pode me representar

Dança passiva
Peça lasciva
A cada ato nos seduz
A apagar a luz
E caminhar na escuridão da ignorância

E você que percebe?
Viva de aparência
Abdique a própria essência
Sorria e finja a demência

Perdi minha decência
Pela sobrevivencia selvagem
Não faço parte da própria sociedade
Não quero mais ser este personagem.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Quem é você?

Você que me olha e não vê
Você que me vê e não repara
Você que me repara para julgar
Você que me julga sem perguntar
Você que pergunta, mas não escuta.
Você que escuta, mas não pensa.
Você que pensa, mas não age.

Você que se perde no turbilhão de acontecimentos da humanidade. Um anônimo numa das esquinas sem nome do mundo. Separado, junto... Solitário na solidão da multidão. Vitima do bater de asas de uma borboleta no Japão.

Você que já foi Vossa Mercê, vosmecê
E agora não sabe quem vai ser
(Quem sabe só 'cê'?)

Você que tropeça na solução
Mas só encontra problema

Você precisa parar de me olhar e se ver.
Afinal,
Quem é você?

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Uma constelação de estrelas cadentes

[...] E algumas vezes, no ultimo clarão da noite, ela abria os olhos e olhava pelo buraco no vidro da janela de madeira apodrecida e empoeirada. Fisgava um pedaço da lua, às vezes uma nuvem esfumaçada e via as estrelas imaginando as coisas que um dia ela teria amado se tivesse mais tempo. 
Tentava lembrar como era o amor, tentava um distante vislumbre do rosto da mãe ou da barba do pai roçando-lhe a testa. Mas sempre que estavam próximas estas lembranças se escondiam em uma cortina densa de fumaça, um cigarro logo era batido por um punho de ferro. E quando a fumaça se dissipava eram olhos de fogo que lhe sorriam triunfantemente, uma boca com um hálito fétido de cebola e cigarros salivava sobre seu corpo, doentia, mastigando seus sonhos e engolindo seu coração.
Nessa hora àquela dor entre as coxas se intensificava, - quase insuportável - as lágrimas inundavam seus olhos e ela perguntava quem era Deus e porque ela merecia aquilo - pensamentos inocentes demais para um adulto e pesados demais para uma criança -. Ali chorava por horas, até que o dia lhe sorrisse ironicamente e a luz fustigasse seus olhos ressecados, ela os fechava e esperava que o sono lhe tirasse para dançar.
Entre um pulo assustado para fora de um pesadelo e um suspiro dolorido e silencioso ela sonhava com o céu da noite anterior. No sonho ela sentava no colo do pai e contava as estrelas do céu, inventando nomes para todas que ela não conhecia. Ele sempre ia embora no final, e ela sempre se desesperava quando se via sozinha naquele céu negro. As estrelas despencavam aos montes e apagavam a luz. Seu coração apertava e ela acordava sem ar, tendo a certeza que aquelas estrelas que caiam eram seus sonhos de sobreviver àqueles dias.
Sonhos quebrados. Uma constelação de estrelas cadentes. 

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Prólogo de Linhas no escuro (parte 1)

Linhas no escuro (parte um)
Garoa fina na orla, fria, densa e cortante. Havia histórias agonizando no meio fio enlameado, e ideias livres pela memória. Se esbarrando. Se misturando.
Sem caneta.
Sem papel.

Uma tarde era pouca para tantos sentimentos. E tantos não caberiam em uma semana normal. Eu precisava contar uma história que eu não gostaria de saber. Sobre, dentre outras coisas.

Uma criança.
Uma fazenda em que chovia o ano inteiro.
Um homem com olhos de fogo.
Uma porção de livros com selo da biblioteca da cidade.

Um golpe repentino de má sorte e em um segundo você começa a cair em desgraça. É assim que funciona. É sempre assim que começa. Uma risada descontrolada no banco traseiro, um sol amarelo e triunfante em um céu azul e nuvens de seda. De repente um louco, um suicida. O asfalto rabiscado pelos pneus desesperados. Gritos de mamãe. Gritos de papai. Gritos de menina. Os pneus. Três sulcos na terra quente. Gritos de menina de novo. E depois. Nada.

Um suicídio.
Dois homicídios.
É assim começa e é assim que vai acabar. Não necessariamente na mesma ordem.

Um suicida em pedaços distribuídos irregularmente pela estrada. E o carro como um animal ferido, com as quatro patas para cima, tossindo num canto esburacado da estrada. Uma desgraça iniciando outra desgraça. Uma longa risada para iniciar um calvário. Eu me pergunto porquê é sempre assim? A única resposta que me deram foi:

“A vida é irônica. Quando menos se espera ela acaba” - de uma menina de quatorze anos com um coração de sessenta.

Ela é Ágata Belina, essas são as “Linhas no escuro”.

Prólogo de Linhas no escuro (parte 2)


As confissões do Sonhador

A tarde continuava cinzenta, a garoa caia como um chuvisco de televisão no horizonte. Bob Dylan, café e cigarros e nada ainda fazia sentido. Quem eu havia me tornado? Eu riria da minha cara se me visse assim há um ano. De ladrão de casas a doador de livros. Muito havia mudado desde quando nas primeiras horas da madrugada ela entrava no meu quarto, e me entregava uma história. Uma versão que ninguém conhecia do conto mais triste, e cruel, e bonito que eu já ouvi falar. Quando me lembro desse dia sempre vejo a imagem dela na beira da minha cama de costas para mim, a vela queimando o quarto inteiro, a sombra de uma cadeira flutuando na parede e as palavras sendo entregues a mim em forma de punhais que ela mesma forjava e distribuía.

E depois um pedido, uma súplica. Eu não pude negar. E mesmo se não prometesse não seria capaz fazer de novo. Uma menina de quatorze anos me fez confessar o que nem 4 horas de interrogatório conseguiram. Eu era sim um ladrão, e eu já quase havia matado alguém. De repente soluços, ela não estava chorando. Não ela não chora. Eram meus.

...

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Estilhaços de verbo

Meu peito apertou quando você não disse
Quando você sumiu e na sua ausência eu te senti presente
Você levou meia frase mordida
A outra metade eu ainda mastigava, tinha gosto de ferro
E oxidava depressa.

Meu coração foi esmagado pelos próprios batimentos
Minha mão esquerda tremeu
Eu sorri um sorriso epilético e sussurrei: preciso escrever

Você que volte aqui,
Te direi as melhores que eu tiver
Antes mesmo que as suas mentiras caiam nos meus pés
Mortas, inúteis e ridículas
Falsas como são as mentiras perante a verdade

Eu cuspirei o resto da frase no seu rosto
E ela vai te agarrar pelo pescoço
E vai esbofetar seu coração
Isso se você voltar, e quando voltar

Enquanto isso algumas palavras oxidam na minha boca
Algumas ideias fervem no meu peito
São coisas que não vou dizer
Momentos que não vão acontecer.


terça-feira, 31 de julho de 2012

No que você está pensando?

Eu sou cibernético e sentimental
Vivo de histórias que nunca vivi
De coisas que nunca vi
No meu sonho de solidão e metal

Viajo o mundo inteiro dentro do meu quarto
Mas não notei a nova borboleta no meu jardim
Vivo num limbo entre o meio e o fim
Esquecido por mim mesmo, no meio de um fardo

As canções já não fazem mais sentido
E as lições que eu tenho aprendido
Têm me "logado" ao mundo real

A vida é mais que câmeras te filmando por aí
É mais que gente te vigiando por aqui
Para que você siga sendo normal

Nem sempre faça o que esperam de você
Nem sempre ligue a tevê

Nem sempre responda
Quando seu computador estiver perguntando:
"No que você está pensando?"

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Pra sempre

E mesmo que um abraço se desfaça
E o sorriso desapareça do seu rosto
Mesmo que eu te sinta amarga
E perca o controle numa das curvas do seu corpo

Mesmo que o sol não nasça para você
Mesmo céu desabe em seus ombros
E você perca a fé, a luz e o ar
E adormeça sob seus próprios escombros

Nos meus olhos fechados você sempre irá viver
E no meu coração cansado você sempre irá correr
E mesmo que meu corpo doente descanse eternamente
Você ainda terá minha mente, pra sempre...

Pra sempre!



quarta-feira, 4 de julho de 2012

Mergulhados nesse absurdo


Quando eu saí do seu mundo
Depois de tanto tempo, corri
Acelerei durante vários minutos
Sem olhar o caminho
Entrando em ruas que eu sempre quis conhecer
E em todas as esquinas encontrando você

Com os olhos colados no chão
Vi que as marcas das minhas lágrimas já estavam lá
E as pisava, vermelhas como meus olhos
Com cheiro do meu sangue
Guiando meu caminho.


Mais que palavras foi o que você me deu
E eu, não vi que as verdades
Se amontoaram nos cantos da casa
Prontas para serem descobertas
Cobertas de poeira numa próxima faxina sentimental


Eu digo 'e se', você diz que é 'só'
Me mergulhei nesse absurdo e sobrevivo
Faço votos verdadeiros que eu não gostaria de fazer
O poeta perdeu sua musa quando as estrelas caíram do céu
Eu perdi meu sorriso, quando meu céu caiu sobre mim



segunda-feira, 25 de junho de 2012

3 acordes


Por que eu vivo de rimas
E não sei cantar livre
Me prendo sempre em analogias
Em frases quase infelizes

Trazendo sempre um peso
Em tudo o que eu posso descrever
E hoje tudo o que eu vejo
É o que eu não consegui ser

Vou devagar 
Destruo alguns versos no caminho
Me pego num clichê sozinho
Usual, trivial e pegajoso

Me vejo agarrado a 3 acordes
Limpos, conformáveis, confortáveis
Refrão-verso-refrão
Tenho nojo

Mas quando a lua uivar para você
Eu serei o garoto solitário de sempre
Eternamente mastigando a verdade
Cantando canções sobre saudade

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Nas sarjetas da Central (a miséria da poesia)

Que poesia há na sarjeta?
Das calçadas que você brota
Ao jardim em que floresce
Há muitas respostas entre mendigos e transeuntes

Nas sarjetas da Central do Brasil
Eu sou o lixo, eu sou a sombra, eu sou o pó
Eu sou a verdade que ninguém quis ver
No seu subconsciente eu sou você

Olhando para cima você nunca me verá
Pois no chão que você pisa eu deito
Mas saiba que o ciclo não termina em você
E que minha miséria, um dia, atingirá seu peito.



terça-feira, 19 de junho de 2012

Castanho

São tão grandes, tão curiosos,
Tão escuros, porém tão verdadeiros
Como um par de jóias raras,
Brilhantes e inquebráveis
Às vezes confusos, esguios,
Às vezes fiéis , fixos
Sempre intensos!

Me corta o coração vê-los molhados
E eu, que já os vi encharcados...
De dor e de saudade
Também já os vi quentes,
Flamejantes de amor ou de ódio
É um pecado deixa-los fechados

Como uma tempestade
Vêm e invade minha alma
Queimando-a por inteiro
Queimando-me vivo

Quando vai embora
O sol vai junto
Minha mente desliza por aí
Seus olhos já não olham para mim.


Atrás de você


O ambiente é quente
Como uma usina à vapor
As silhuetas dançam no horizonte
Onde você se esconde?

Durma bem,
Viva bem
Veja flores onde estiver
Ó meu bem!

Ao menos agora você pode ser você
Viva bem, é só querer
E agora sem você todos os dias
Nascer, dormir, morrer...

Abra os olhos e não me veja
Eu fecho os olhos e te canto
Parece tão perto mas já faz tanto tempo
Eu lamento, palheto forte, desencanto

Tire o seu jeans de baixo do seu allstar
E continue a caminhar
Indestrutível, irredutível
Impossível de amar

Viva bem
Eu bem sobrevivo
Durma bem,
Ó meu bem!

















terça-feira, 29 de maio de 2012

A vida é simples na lua

É, você estava tão certa
A vida é tão simples na lua
Longe dessa superfície burocrática
Cheia de tolos e pobres

Eu sei, cratera
Você é tão vazia quanto ela

Sim, você estava certa
A Terra já não é tão bela
Vista da lua, entre a poeira e fumaça
Legiões de miseráveis livres

Eles já nem olham para o céu
seus fantasmas já olham nos seus olhos

Não falta-lhes comida
Não falta-lhes dinheiro
Falta-lhes coração
Falta-lhes fé

Somos ativos de um genocídio inconsciente
Somos vítimas dos próprios preconceitos
O fantasma que nos assola não tem armas
Não tem pés, não tem mãos, não tem língua

Nós temos TV
Nós temos um Estado democrático e livre
Nós podemos comprar o que quiser se tivermos dinheiro
Nós temos o direito
Mas nós nem sabemos direito...

Então por que a Lua é tão mais bela?

O que nos faz feliz é o que nos aprisiona
A nossa riqueza pisa em alguns cadáveres
Nossa sublime inversão de valores

A vida é simples na lua, sim
É isso que a noite tem a dizer.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Até mais, borboleta


Não vim pedir perdão
É, não vim!
Mas no fim
Acabarei pedindo sim.

Mas por quê?
Quem mentiu foi você
Se arrependeu
Mas é facil se arrepender

Seus olhos ainda se perdem no passado?
Eu não volto mais lá
E se voltar
Não quero mais te encontrar.

Você diz que o tempo parou
Parou pra você que não viveu
O tempo voou
Para meu coração que amou

Fui amado
Fui curado
Revivi
E te vi
Sim meu coração se aqueceu

Palpitou
E eu então palpitei que passaria,
Passou...

Adeus, borboleta!

terça-feira, 1 de maio de 2012

All Star e jeans velho

Enquanto o mundo desmorona eu me levanto,
Forças para falar de um velho sonho.
Que me visita toda vez que abro os olhos
E que fica mais intenso quando o ignoro

Eu sou a cada dia menos invencível
Sou a cada esquina mais invisível
O mundo é incompreensível
A revolta é cada vez mais sensível

Imprevisível
Quando o som arrepia minha pele
Quando a mensagem abre meus olhos
E minha mente acelera por aí

Eu era indestrutível
Agora penso duas vezes antes de agir
Eu já não toco minha guitarra tão bem
Mas seu som ainda me faz sorrir

Então vá embora com sua corrente
Eu sonho em ser livre de novo
Eu preciso de mais solos e menos versos
Eu preciso de All Star e jeans velhos

Eu cansei de ser sociedade
E viver um sonho comum
Eu percebi que corri por muito tempo
Mas não cheguei a lugar nenhum.


segunda-feira, 30 de abril de 2012

Pense bem

Eu quero esquecer
Quero esquecer e escrever
Quero escrever e dizer
Quero dizer e convencer

Pense bem...

Nós estamos nascendo
Ou começando a morrer?

Eu não quero crescer
Não quero crescer e vencer
Não quero vencer nem convencer
Só quero viver e esperar

Pense bem
É preciso ter fé
As vezes só é preciso caminhar
Mesmo sem saber onde se quer chegar

Não me diga que os bons tempos passaram depressa demais
Não me diga que é um momento doloroso
Somente agradeça por fechar os olhos
E estar viva para abri-los de novo

Mesmo que a primeira lágrima tenha caído
Pense bem
Às vezes você só precisa pensar bem.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Não há solidão na loucura

A lua me chama hoje, eu tento evitá-la. Me sinto vazio, sei que a noite não me completaria por mais que me seduza. Tenho a brisa como uma caricia, sinto uma umidade aqui e ali. Acho que é a noite a me beijar, mas continuo frio.
Falta alguma coisa... Alguma coisa no meu café,  ou no cigarro talvez. Alguma coisa que eu não sei o nome, mas que faz toda diferença, que dá todo o prazer. Eu poderia estar feliz, mas não estou. Eu poderia estar feliz, mas eu nem saberia se estivesse. Afinal nada muda no café e no cigarro. Nada muda numa noite de verão.
Ainda sim, a lua continua a me olhar com olhos grandes, implorando para que eu abra os meus e pare de olhar para dentro de mim mesmo.
Me recomponho. As sarjetas me sorriem. Elas parecem limpas hoje. Como num último sarcasmo alguém quer me dizer que eu estou louco mas não sabe como. Eu quero dizer que não estou, mas não sei a quem.
Preciso terminar isso antes que me olhe no espelho e não me reconheça. Antes que você me olhe e me enlouqueça me chamando para fugir daqui. Não vá embora - eu apenas digo. Preciso de você no meu manicômio.

terça-feira, 20 de março de 2012

Amplificadores da paz

"As crianças não estão bem"

Gritaram nos meus ouvidos

Os filhos da revolução morreram

A geração agora é coca, somente.


 

Eu estou num transe

Num sonho indecente de felicidade

Num devaneio desesperado

E talvez eu me salve por isso


 

Vejo-os marcharem

Munição e armas

Correndo para outros rapazes

Que também não sabem aonde vão


 

Vejo-os sangrarem

Logotipos e siglas

Falanges e facções

Disparos e palavrões


 

Enquanto isso, garrafas douradas estouram na orla

Eles nos ignoram, ignoram nossa luta

O sol escaldante não descongela seus corações

Mas mantém os nossos acesos


 

Ninguém sabe, mas...

O assaltante tem tudo a ver com o assaltado

Assim como o futuro está ligado ao passado

E o erro nos acerta toda vez


 

Cada um faz sua trégua como pode

Cada um faz sua estrada como quer

E eu escolho a paz da arte

O som da revolta e o sangue nas veias


 

O hardcore cura minha pobreza cultural

Enquanto eu escrevo minha revolta

Em meio a estilhaços e verdades forjadas

Nós somos os amplificadores da paz.


 

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Come On

Quando embarcamos não sabemos onde ir. Nós não levamos nada, não fazemos contagem regressiva. Nós simplesmente nos tocamos. Nós simplesmente vamos.
Nosso combustível transcende a pele, dilata os poros, ganha o ar, incendeia o recinto. A noite pára para nos ver queimar. Glória rubra nos olhos, enquanto a luz amarela invade a janela e deixa minha pele da cor da sua. Agora... vai... É! Somos um só. Somos pele, calor e suor. Meus ouvidos já escutam os sussurros que sua boca não diz. Você é língua, dentes, lábios. Eu sou olhos, pernas, braços. Você é elétrica... Sim. Eu posso ser elétrico também.

É mais que só sexo, é mais que amor. É como um rito sagrado numa noite de verão. Calor e Tempestade: somos dois deuses pagãos.

Vamos lá! Estamos quase lá. Eu me sinto no controle, você se sente supersônica. Você tem as asas e eu quero voar.