sexta-feira, 26 de julho de 2013

Poema da Nega (Tudo o que não cabe no poeta)

A poesia não cabia no papel
Estourou a caneta
Mudou a faceta
Trocou de língua
Tudo o que não cabia no poeta
Era a torre de babel
Por entre as nuvens subiu ao céu

Sussurrou em seus ouvidos
Uma leve brisa
Persevere, minha querida
Persevere.
Todas as bocas não servem
Que seus beijos me esperem

Eu tenho um sonho
E ele tem seu nome na capa
Conta sua brava
História nas páginas
Está manchado
Com suas lágrimas

Cadê o seu suor
E o seu sangue?
Seu sonho
Pisoteado pelos
Um milhão de pés da história
Que corre em círculos
Apressa os relógios
Compulsória, irrisória

Fecho os olhos e
Com seu beijo doce
Eu me guio
Desenhando pelo seu corpo um rio
Sem dizer um pio.
Sem ver a cor.
Só o sabor
Do amor.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Molotovs no congresso


A Babilônia te governa
Sua consciência hiberna
Mas a vitória é certa
É hora de sonhar.

Eles querem jogar
O tabuleiro é deles
O dado é viciado
E não está do nosso lado

Sobre o viaduto os carros atacam
Sob as marquises os mendigos defendem
Suas feridas pútridas nos ofendem
Os motores importados quase falam

De cima dos blindados a polícia massacra
Encolhida nos becos a favela resiste
E no asfalto com o dedo médio em riste
A juventude ativista é emborrachada

Enquanto isso nas telas gigantes
Da classe média pequeno-pensante
A violência é tão fascinante
Enquanto está tão distante.

E porque igrejas se ensina
O mesmo jogo das esquinas?
A benção aos nobres,
À plebe a sua sina.

E se a escada para o sucesso
Passa por cima de você
Por que não acender
Molotovs nos congresso?

sábado, 20 de julho de 2013

Hóstia

Eu preciso de folego
De razões para continuar
De novas fronteiras para transpassar
E talvez, de mais tinta na caneta
De mais caos na coração
Preciso de fogo todos os dias
De violência, de rebeldia

José e Maria.
Do corpo de Cristo
Às águas sagradas da pia

Eu preciso acreditar
Mas a vida não é justa
Há quem apanha
Há quem degusta
Há quem mastiga a hóstia e sangra
E sente o gosto de fel da justiça
Dessa fé submissa.

Liberdade, igualdade e fraternidade
Ou a ordem matando a justiça
O progresso matando a verdade.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Trocando uma ideia com Deus (Parte III)

A distancia do chão até o céu
O esfumaçado das nuvens no caminho
Vou explodindo tudo feito um raio
Mas ninguém me pergunta onde estou indo

Aí eu deito na cama, e a mente começa a gritar
Estilhaços de bomba em todo lugar
Com os olhos tiro as pedras no chão
E  as embrulho no ódio em suas mãos

Atire-as em mim se puder
E me veja morrer em seu nome
Espere que ele me mande pro inferno
Por não usar maiúscula em seus pronomes

Eu sei que ele existe porque é tão obvio
E sinto sua presença mesmo quando estou sóbrio
Só me pergunto em que lado está afinal
E será mesmo que existe bem ou mal?

Brigo com Deus: cajados e palavrões
Do outro lado a fúria dos seus trovões
Berro contra as nuvens: "estou aqui, porquê não se aproxima?"
Porque não me deixa em paz e pára a carnificina ?

Ele apenas pára a chuva e me da um novo sol
Pra que caixão? Pra que formol?

sábado, 1 de junho de 2013

Soneto dos pobres de espírito

É sábado e não espero nada
Não escuto passos na calçada
Não deixo a porta destrancada
Não olho a esquina da sacada

Deixo-me à brisa que me envolve
A noite fria me dissolve
Neste céu negro minh'alma é densa
Mas pouco intensa, de carisma pobre

Me faço ouvir num leve soneto
Pra ver se aqueço olhares de cobre
Mas em minha missão não há nada de nobre

Lhes faço sorrir numa breve anedota
Na manhã seguinte bato em suas portas
E lhes quebro o sorriso com minhas derrotas.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Não diga Amém (parte II)


Entre na forma suja da semente do seu pai
Você, fruto do coito e da carne
Agora dorme num ventre vadio qualquer
Nasça na forma suja, humana, errante
Semelhante a própria semelhança
Cresça num lar de amor
É lindo ser o motivo pelo qual eles ainda não se mataram,

Papai x Mamãe

Vá para a escola, suba na escada do sucesso
Pise em alguns no caminho
Tire todos do seu caminho
Mas não se esqueça de ir a igreja aos domingos
Deus não gosta quando você não pede perdão
Mesmo quando vai fazer tudo de novo

Peque um pouco,
Sofra um pouco,
Morra um pouco,
Como é bom ser jovem!

Tenha um emprego que lhe sobre tempo e dinheiro
Para engordar como um porco
Bebendo cerveja na frente da TV
Case-se com a loira mais bela,
Mas tenha um caso com a ruiva,
Quem sabe um bastardo com a negra?
Trate todas como carne
Assada. Comida.

Compre uma casa,
Compre um carro,
Compre uma arma,
Ou faça uma com o carro depois da cerveja

Uma arma para si mesmo.

E se eu fosse o diabo?
E se eu fosse Deus?
E se eu fosse você?
Metade do homem que eu costumava ser.
Metade do erro que eu vou cometer
Metade das coisas que eu quero ter

Ser o que ter!?

E se eu fosse um bom rei
Morando em um pequeno castelo triste
No reino mais pobre que existe.

Não pobre de ouro,
Pobre de gente.

E que Deus não seja louvado nos rodapés da moeda desse reino
Mas que a deusa pagã da revolução
Nos sorria na beleza desta nota
Santificado seja o teu nome
Você que não é santo nenhum
Mas tem o nome de um santo qualquer.

A corrupção da ignorância é inocente
Abençoado seja o que rouba sem ver,
O que mata sem ouvir,
E o que morre sem gritar.

Abençoado seja o deus dinheiro
Que compra todas as coisas
materiais ou imaterias
Que podem ser vistas ou não
Para todo sempre.
Não diga amém!

Vocábulos, rascunhos, retalhos

POESIA:
O partido político dos homens tristes.
Por ela estou a me manifestar de novo.
Queria mais,
queria um violão amigo para assassinar os sublimes acordes de uma triste canção.
Mas tenho pouco,
Tão pouco o quanto preciso:
Linhas tortas, palavras mortas e lágrimas.

A vida é uma cachoeira, meu rosto é um rio
E só hoje não dormirei bem
Eu peço que conte todas as estrelas do seu céu
Para ter certeza de que a minha estrela se apagou
No meu céu você ainda irradia seu amor
No meu céu você ainda é o sol.

Começo milhões de poemas sem terminar nenhum
Um para cada tentativa,
Um para cada suspiro meu.
Minha vida é mesmo feita de rascunhos,
Retalhos de sorrisos, pétalas de flores secas,
gritos que não saíram da garganta.

Palavras,
as amigas que odeio
Por serem as mais sinceras
Por estarem sempre aqui
São as mesmas que me ocorrem agora
Elas nunca vão embora.




terça-feira, 12 de março de 2013

A canção da solidão

E se tiveres um dia
Centenas de amigos híbridos
Sem cor, Sem religião
Sem coração como tu és
Ainda assim se encontrarias
Na mais completa solidão algumas vezes

Pois a única semelhança entre nós
É que a solidão nos habita nas diferenças
E nos afeta estando perto
Nos faz chorar estando longe

E se em algum dia qualquer
Ao escrever a tua hagiografia
O hagiógrafo esquecesse dias como o de hoje?
Dias no deserto da própria alma
Num jejum e tentação imensuráveis
Dias que só tu viveste e não contara a ninguém
Agradece hoje que não há hagiógrafo nem caneta
E que não és santo algum
E nem mesmo está morto
Porém o deserto da alma está lá
Ele existe para santos e pecadores

Pois quem nunca pensou
Em cantar uma canção
Num dia de profunda solidão
Só pra ver se alguém canta junto.

Eu sou a ponte

Eu sou a ponte. Eu sou o cabo que alimenta a realidade de motivos para viver, o mundo de motivos para não acabar. Eu sou o aparelho que transmite a beleza em sua forma mais pura, o amor em sua forma mais leve, a dor em sua forma mais grave.
Eu estou para os românticos como para os céticos estão os cientistas. Espalhando verdades estranhas para quem quiser acreditar.
Eu vivo num tempo distante de um mundo que nunca existiu, mas que muita gente vai visitar. Uns pela beleza, outros pela doçura, pelo torpor, pela ilusão que habita o lugar... Ícaro falou do seu céu e hoje é considerado louco. Camões e Pessoa devanearam por suas ruas, cambalearam pelas calçadas. E alimentaram mentes como as nossas desse torpor.
Poetas loucos. Loucos poetas.
Eu sou um rio que transborda, a arte me fez assim, inundando de palavras que eu não sei de onde vem. Eu sou um rio que não sei pra onde vou. Um mensageiro de mensagens sem remetentes que vem para pessoas que eu não sei quem são e que nunca vão me encontrar em lugar ou tempo algum.
A poesia é o caos transcrito pela caneta, polido pelo poeta. Não há poesia sem caos. Não há poesia sem que algo brigue em mim para existir. O ódio, o amor, a dor e a verdade tomando forma material. A matéria tomando forma sentimental. A forma elementar da vida humana. 
Eu sou a ponte!

sábado, 12 de janeiro de 2013

Não diga amém!

A garota facilitou o meu viver
Sorriu quando tinha de sorrir
Falou quando tinha de falar
Não regou as flores de plástico que eu lhe dei
E disse que elas não vivem
Só para eu dizer que também não morrem

Tocou na minha barba jovem e negra
E foi embora.

Eu fiquei pois aqui se passa mais do que fica
E a solidão do ficar
É infinitamente maior/melhor que a "vaziez" do passar..

Apenas passar, não indagar e ser feliz!
Apenas ficar, pensar e não sorrir.

Todo mundo tem direito a felicidade?
Eu preferi me esvaziar de ignorância
Todo mundo que escolhe não escolher
Não escolhe a maldição que eu escolhi.

A ignorância é uma benção
Não diga amém!




quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A cor púrpura

A noite era púrpura quando a beleza se desfez
Meu sorriso era cheio de verdade
Meus insultos eram parte da amizade
E até se eu te fizesse mal, era "púrpura" bondade

A cor púrpura e o mistério da bondade.
É como o bailar de uma bailarina no escuro
Sussurrando em um ouvido surdo
Palavras do amor mais cruel

Dê-me o céu
Mas pode ficar com as estrelas
Eu quero apenas a cor e o amor
Deixo para você a beleza

A beleza é o que passa!

Por trás de um véu de fumaça
A cor purpura se manterá
"O poeta está vivo" - ele sempre estará