As confissões do Sonhador
A tarde continuava cinzenta, a
garoa caia como um chuvisco de televisão no horizonte. Bob Dylan, café e
cigarros e nada ainda fazia sentido. Quem eu havia me tornado? Eu riria da
minha cara se me visse assim há um ano. De ladrão de casas a doador de livros.
Muito havia mudado desde quando nas primeiras horas da madrugada ela entrava no
meu quarto, e me entregava uma história. Uma versão que ninguém conhecia do
conto mais triste, e cruel, e bonito que eu já ouvi falar. Quando me lembro
desse dia sempre vejo a imagem dela na beira da minha cama de costas para mim,
a vela queimando o quarto inteiro, a sombra de uma cadeira flutuando na parede e as palavras sendo entregues a mim em forma
de punhais que ela mesma forjava e distribuía.
E depois um pedido, uma súplica.
Eu não pude negar. E mesmo se não prometesse não seria capaz fazer de novo. Uma
menina de quatorze anos me fez confessar o que nem 4 horas de interrogatório
conseguiram. Eu era sim um ladrão, e eu já quase havia matado alguém. De
repente soluços, ela não estava chorando. Não ela não chora. Eram meus.
...
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