é natural sob este céu
que se desfaz e
despenca em nossas cabeças
me levanto faz 10 graus
cafeteiras chiam
casacos são vestidos
motores a gás ronronam com preguiça
mendigos padecem em seus papelões
na condução todos apinhados
calados limpos conformados
todos são parafusos
nas engrenagens do mundo neoliberal
todos carregam celulares
notebooks jornais
todos carregam o mundo
nos bolsos, nas mãos
nas costas
todos se entreolham
solitários na companhia da multidão
todos pedem licença obrigado socorro.
ninguém responde
são súplicas jogadas
no vazio do silêncio
subo as escadas do metrô
já cansado ofegante
desnorteado são 7 horas
sinto o peso do imperialismo em minhas costas
aqui e no Oriente Médio
primaveras vem e vão
feitas de flores e mentiras
jornadas de junho julho e agosto
continuam a ser cumpridas
mas novos outubros nunca vêm
o mundo inteiro nasce e morre
nada se eterniza
burocratas praticam a burocracia
presidentes sofrem golpes
contragolpeiam
jebs diretos cruzados
que atingem o povo em cheio
e eu continuo a suportar Wall Street
escadas do metrô da cinelândia acima
até que espremida entre o som dos carros
e a chuva que cai sombria e fina
e os pés pisoteando as poças d'água
uma voz miúda, ainda vacilante, anuncia
que o sol há de brilhar mais uma vez
paro atônito no Passeio Público
melancólico frio bucólico
a vida escorre pelos bueiros
pombos se escondem nas marquises
vejo de fato o sol brilhar novamente
não no céu utópico distante
mas nos olhos de todos
que param o trânsito
rompem o pacto
bandeiras vermelhas nos mastros
ainda me sinto esmagado
mas já não me é natural
o céu é leve, o ar é novo
lá vem outubro
vermelho e pleno
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