domingo, 17 de janeiro de 2010

A cidade me consome

Hoje sai sem saber
a que horas vou voltar,
há horas e horas atrás,
me senti só na multidão
e não seria maior a solidão
se a cidade não estivesse aqui.

no fim da tarde
o céu era vermelho e queimava
e meus olhos caiam por aí
nas sarjetas ressecadas,
fugindo do calor que me matava,
da luz que me cegava,
da dor que me calava.

e há também uma falta,
alguma coisa me esvazia.
não sentir tua presença
me mata, e esse silencio...
ah! ele nunca acaba.
a cidade nunca acaba,
não é tão fácil fugir.

a angústia tem gosto amargo,
mas não é pior que o cheiro
do esgoto, desse lixo sentimental,
e desse calor a altas horas.
por que hoje o céu não chora?
seria bem conveniente.

são apenas 10 horas
mas minha cidade adormeceu,
o céu perdeu seu gosto e morreu.
e as estrelas caíram
num ultimo sarcasmo
oh! Deus, como eu gostaria de um cigarro.
todos eles acabaram.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Um belo dia para morrer

Se levante comigo,
Hoje é um belo dia para morrer.
Se levante aqui comigo,
O sol acabou de nascer.

Guerreiros livres
Simplesmente não lutam,
Eles apenas se erguem
e suas almas flutuam.

Eles são imaculados,
estão fora dessa questão.
Um deles não contrói
A sua própria prisão.

Eu tenho medo do futuro
Mas tudo vai indo bem.
Até agora tudo é muito igual
porém, já não digo nada a ninguém.

Querida, você não desconfia
do que eu sei,
Não morrer não é viver para sempre.

Você não sabe o que eu aprendi
e então ensinei,
Nada é livre do fim,
Glorioso é quem entende.

E agora eu sei:
É sábio e cruel, o tempo.
Arrasta consigo lágrimas, lamentos...

Nem devagar nem rápido, mas sem tropeços,
Até que um dia os deixa cair
na estrada entre o fim e o recomeço.

Calado, pela última vez.

Pela última vez que a vi
poderia tê-la beijado,
poderia tê-la abraçado,
pela última vez
tê-la feito feliz.

Poderia ter dito que a amo,
e tê-la pela última vez
em meus braços.
Poderia fazer pela última vez
o que nunca fiz.

Mas eu não queria estar lá
quando meus olhos ficassem vermelhos.
Eu não queria que ela visse
eu beijar o chão.

Então a disse adeus
com um abraço tão frio,
e deixei que aquela carta
sucumbisse em minha mão.

O que era aquilo tudo?
eu preferiria não ter visto,
não ter vivido esse último momento.

e aquela carta, feita a mão,
como um último lamento,

como um último pedaço dela aqui,

um pedaço que nunca ri
que nunca emite som.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

combustível para alma

O sol nos rasga a pele,
o torpor parece infinito.
É quente, é muito quente!

Hoje o céu é azul,
um falso dia bonito.
Hoje o céu mente, ele mente!

A inspiração amarga.
A tempestade que chega
me alerta, me dá a resposta certa.

A solidão tem dois lados
A dor às vezes dá onda.
Me alerta! A dor me faz um poeta.

O coração do sonhador

Ele bombeia os fluídos de amor pela alma
e se retrai com a dor mais aguda.
A paixão, eterna antagonista da calma
causa num coração velho uma bombeada enxuta.

Ele se abre e grita como uma rosa vermelha
que nossos olhos ouvem nunca dizem não.
A rosa que grita com uma cor tão forte
é tão forte quanto a dor do grito de um coração.

Ele é uma enorme caixa de sonhos,
sonhos novos e quebrados se amontoam nas paredes.
Ele é um carregador de sonhos, eu suponho,
que passa por praças de guerra e campos verdes.

Mas e quando os sonhos não são feitos de prata,
E quando eles são pesados e quebrados?
Meu coração só passa por bombardeios há tempos,
Pois eu sou um sonhador com o coração cansado.

domingo, 10 de janeiro de 2010

O dia que nunca acaba

Ele nasceu para me desmoronar.
Mas e se eu já estiver no chão?
Seu ar circula por aí,
eu prendo a respiração
não aspiro seu veneno.

Ele veio para me envenenar.
Mas e se eu já estiver envenenado?
Preso atrás dessa linha
que me une a você,
e você me deixa tão só.

ele veio para me escaldar.
Mas e se eu já estiver fervendo?
Com a pele escamando
em processo de dissolução.
Rastejando para fora da minha pele.

Céu de azul infinito,
Horas que parecem séculos,
suas nuvens de fumaça branca,
e a água evaporando
e distorcendo o asfalto em brasas.

O céu mistura tudo
num ensopado colossal.
Eu sou sua colher de pau,
mesclando a eternidade de uma dia
a certeza de que ele acabará.

sábado, 9 de janeiro de 2010

A vigésima segunda avenida

Eu senti um arrepio pela espinha ao andar por aqui sozinho. Essa é a vigésima segunda avenida que eu tento iluminar hoje. Mas minha alma é tão culpada, minha sentença é esta aqui.

É a vigésima segunda avenida. Um pesadelo de 255 metros, percorrido a passadas lentas - quase paralisadas - em meio a neblina. Ao cheiro de medo. Sim, o cheiro. Não o fedor.

Essa neblina que me oblitera lentamente, são os espíritos que me socam, suavemente, bem no rosto. Tão sarcásticos.Mas contundentes.Todos aqueles corpos desalmados - criados por Deus - são tão inúteis junto aos corpos sem alma - criação dos homens - mas suas almas são quentes.Corpos mortos. Almas vivas. Afinal, são corpos desalmados,almas desencaranadas.

A dança dos mortos é encantadora,e estou amedrontado.Situação aflitiva - alguém diria. Violentamente aflitiva. E a minha alma dança.

Mas no fim um alívio: a música acabou, a avenida também,ficaram os corpos, foram as almas, e eu, continuo... vivo.