quarta-feira, 5 de abril de 2017

Melancolia

o mentar prolongado
sobre o assunto que
não veio.
sobre o remédio que
não veio.

e não veio a utopia.
e tudo parou,
e tudo ruiu,
e tudo morreu.

a gota que insiste
e rasga a terra estéril
da face engelhada.
e dói pra sair.
não se sabe se é sangue.
não se sabe se é lágrima.
tem gosto de sal e facada
no fígado.

o que costas se abre,
não há mais perdão.

querer se afogar no rio,
o rio secou, o peixe morreu.
a vida fugiu do pescador
que soltou de um olho
a gota de arsênio
pra não levar chumbo.

e a vida fluiu
em outras fozes
ignorando o calar
de outras vozes
que valem tão pouco,
se falam de dor.

a menina que sonhou coletivamente
e o rapaz que amou ardentemente,
sucumbiram ao grito do apito senil
e à barbárie que ulcerou o coração
dos homens.

e então, o remédio não veio,
o abraço não veio, não veio a verdade,
não veio a empatia, e tudo partiu,
e tudo sumiu, e tudo embotou.

o que se segue
é o mentar
exausto, prolongado,
mas em verso,

porque melancolia,
pela melancolia,
nada resolve.

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