sábado, 25 de abril de 2015

Sobre os passos de abril

meu peito é uma prisão
maciça e indestrutível
um complexo indivisível
de razão e desespero.
o produto sensato
de um destempero.
uma caixa sem enfase
e paradoxal.

neste tórax nu
a altas horas
bate um coração vagabundo,
moribundo,
mastigando as migalhas do mundo
recluso na prisão
de carne, osso e petulância
morrendo de arrogância,
vivendo este absurdo.

todas as mulheres dormem sobre meu peito
nenhuma ouve meu coração
que como um pássaro ferido
sussurra uma oração
com assovios baixos e surdos
a tempos regulares
perdidos nos passos mudos da multidão.

meus olhos doentes, carentes
se perdem em todos os seios e lábios
qualquer olhar recíproco me consola
nenhum me renova,
mas na madrugada
todos os malandros são sábios.

me volto então
a minha classe e alguns poemas
algumas mentiras me ajudam a viver
outras me ensinam com lemas
mas todas são falsas
e um dia vergonhosamente
ão de perecer.

e o fedor
da velha classe e dos velhos versos
não causarão furor
no mundo novo que há de vir
a liberdade me enche os olhos
mas não é pra mim
e pra fugir da decepção
me escondo
em minha gaiola
forrada de cetim.


Nenhum comentário:

Postar um comentário