terça-feira, 12 de setembro de 2017

breu

no céu só uma banda de lua
como um seio de mulher jovem

na terra
igrejas imitam shoppings
shoppings parecem  bairros
manchando a paisagem nua

pequenas nuvens insinuam quadris
uma banda de bunda suaviza o horizonte

letreiros vermelhos e azuis
olhos cerrados por princípio
fumaça de maconha e tiner
e um sinal dizendo "vá"

a noite tenta imitar aquela pele
e quando acerta
queima como o sol
e tanto quanto queima
é intensa
treva e misteriosa

se veste as vezes
se neblina ou chove
faz saber que é melhor nua

preta e prada não se conjuga
quando vamos ao que importa

símbolos perdem o significado se
desço as curvas exageradas a toda
e sem freio mergulho desesperado
no rio salgado entre aquelas coxas

um grito desvairado que rasga o tecido da noite
uma contradição, um descuido
uma morte sem corpo, sem provas, sem epígrafe
tão magnífica que não cabe no poema

lisa e reluzente desvanece em minha boca
derrete como manteiga em meu rosto quente
se abro os olhos ela é enorme como o céu
e me cabe inteiro

nessas horas sou um poeta sem registros
fazendo obras primas instantâneas que deixam
cheiro no ar e saudade na boca

se eu tivesse papel descreveria melhor
minha ânsia de foder com as estrelas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário