o ar se move carinhosamente entre meus dedos
lá fora se configura um melancólico outono
foliões ignoram a tristeza e lotam as ruas
aqui dentro os dissabores se dissolvem no café
enquanto caminhas para fora do meu mundo sem querer
analiso introspectivo este novo estado de coisas
aí fora a felicidade queima rápido, mas se esgota
aqui dentro nasce um rio vagaroso, mas eterno
o mundo caduca lentamente nos jornais
pros místicos se anuncia um julgamento coletivo
nos ombros o mais miserável carrega a grande máquina
nas rugas os mais velhos denunciam as ilusões
nos sambas todos os amores começam e terminam
todas as esperanças desaguam em terra infértil
todas as sementes se perdem sem colheita
mas todos os poetas sempre choram rosas
chorando rosas para o povo sigo em cinzas
na quarta-feira derradeira que anuncia o novo mundo
de ombros e olhos leves para pintar o futuro
sem os olhos rasos d'água por amores de papel.