segunda-feira, 29 de junho de 2009

Alguns dias depois

Alguns dias depois eu tento não mais
Não mais te perdoar e voltar atrás
Não mais olhar para trás e te ver
Mesmo fechando os olhos e vendo você.

Alguns dias depois eu tento não mais
Não mais falar do amor que hoje sinto
Que como um câncer consome minha alma
E com calma me mata sem eu nem perceber.

Aqui não direi mais que ainda é cedo
Ou que você está com medo
De nenhuma lembrança vou falar
Mesmo que as mais belas me ocorram vou me calar.

Aqui também não falarei dos seus olhos
Que tanto já fizeram meu peito sorrir
E hoje fazem meus olhos chorar.

Já passa da meia-noite
Mas hoje não estou à meia-luz
Tropeço nas palavras que não quero usar.

Daqui a alguns dias não lembrarei de você
E pra outros ouvidos estarei a cantar
Alimentarei o ego de outra musa
E você sem sua platéia se arrependerá.

domingo, 21 de junho de 2009

Por todo o pesadelo

Por todo o pesadelo eu gritei,
por todo o pesadelo eu usei
minha própria voz para me acordar
como se a realidade pudesse salvar.

por todo o pesadelo eu fui caçado,
por todo o pesadelo eu rastejei
para fora da minha própria pele
pois nela não podia respirar.

por toda alucinação me vi morrer
nascendo de novo para sofrer
e por toda minha loucura eu procurei
a cura que me faz se rebelar.

eu vi whisky nas mansões,
e vi cerveja nas esquinas,
e o mesmo monstro em cada lugar
a opressão sagrada em cada lar.

dentro de cada um que eu conhecia,
entrando em cada porta que se abria,
por todo pesadelo eu vi tudo
mesmo tendo medo de olhar.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Meia-noite à meia luz

O que fazer à meia-noite?
Quando o sono não me tira para dançar,
Quando as idéias são o rosto da musa,
Quando aquela voz vem me guiar.

Quando o sentimento de vazio é tão grande
Quanto o amor que me enche por dentro.
Quando eu sussurro por aí que a amo,
E espero que ela escute no vento.

O que fazer à meia noite?
Talvez me pergunte até as seis da manhã.
Perdendo mais uma noite por amar
E umas folhas de caderno para me declarar.

A ansiedade é de vê-la novamente,
Parece que vivo para estar com ela.
Quando vai embora começa a agonia,
Esperando que venha o outro dia.

E que eu possa tocá-la mais uma vez,
E olhar outra vez nos seus olhos castanhos
Que parecem dois furacões,
Entrando e me destruindo com suas confissões.

E eu vou caindo noite adentro
Os vendo sempre acima.
Os vendo sempre sorrindo
Como duas obras-primas.

Do peito

Eu abri um buraco negro no teto
Na esperança de fugir da angústia,
Na transição entre o errado e certo
“Apaguei” e fiquei na fissura.

Agora estou de “cara” de novo
Já passaram a onda e o medo,
Mas ficou o mesmo gosto de anis
E o sentimento de angústia no peito.

Precisava falar um pouco...
Minhas palavras, não há mais que segure,
Nada que uns bons versos não levem,
Nada que um bom samba não cure.

O narcisismo deste poeta
Exige a atenção da platéia,
Composta de garrafas vazias
Na ressaca do meu show de estréia.

A primavera do poeta

Será o poeta neutro no mundo?
Será que o poeta não sabe mesmo amar?
Será que a frase mais linda é só verso,
Que nunca aconteceu ou acontecerá?

Será nosso sonho algo tão banal,
Que para um poeta não é coisa de se apreciar?
Será o nosso amor alguma coisa rara,
Que o poeta abstrai para poder falar?

Quando os vidros se quebram ele não sente nada
E ainda encontra inspiração em ver alguém chorar,
Escreve de dentro sem tirar pedaços
E continua vivo se o verso passar.

Parece que a eternidade cabe nessas linhas
E a sonoridade agora ganha o ar,
Mesmo se as "águas de março" levam o verão
Ele encontra a Bossa Nova para se curar.

Mas se o poeta encontrar a primavera
Com uma linda flor ele pode se encantar,
E se ele se perde nessa intensidade
Dentro do próprio verso pode se encontrar.

É aí que o poeta desse do seu salto
E sua imortalidade põe-se a duvidar,
Encontra a poesia como um mortal
E como qualquer outro aprende a amar.

A dor

Ao fim da tarde, eu e minha esposa Tereza, voltávamos pela extinta Treze de Maio. O abismo que havia entre nós denunciava nossa angústia, a dor que sentíamos evidenciava que havíamos deixado um pedaço de nós naquele cemitério.
Não olhávamos para quem passava, já não olhávamos para o céu, já não esperávamos mais nada Dele. Olhávamos apenas para o chão, concentrando nele toda nossa dor, na esperança que ele se abrisse e acabasse com a nossa agonia.
No caminho também não nos olhávamos, de alguma forma víamos um na face envelhecida do outro, que outrora dava tanta felicidade em ver, o rosto daquele menino, que entrava pela sala tomando a benção, que lutava par não tomar banho ates de dormir ou para ir à escola nas manhãs frias, ou mesmo daquele rapaz alto e belo que nos ofereceu o buquê da formatura, como se nós é que tivéssemos feito.
Parece agora que entramos em uma contagem regressiva para reencontrar aquele que prometeu nunca nos abandonar. Vinte e cinco anos de nossas vidas nós tivemos que enterrar para tentar viver o que nos resta e morrer dignamente em outro lugar. Que sentido agora, deve ter nosso miserável resto de vida? O de sofrer e chorar? Ou o de viver a nostalgia eterna daqueles vinte e cinco anos que se foram?
Não sei, me parece agora que isso tanto faz. A droga já faz efeito. Vamos descansar em paz.