Tudo sempre começa com um primeiro verso,
converso com o Rio, me disperso,
nessas horas capto a razão do universo
e transcrevo tudo em papo corrido e reto.
sou a ponte perdida, metralhadora lírica.
de tudo que eu ganhei na vida
a verdade empírica das coisas é a mais bonita.
me tornei um usuário compulsivo da filosofia
sofia vã, como toda flor é escrava da manhã,
e essa flor depende tanto de uma mente sã.
e sanidade está em falta no Rio de Janeiro
de sexta no puteiro e segundas no divã
que caminha pro precipício e não protesta
como se consentisse uma arma apontada pra testa,
que não pula a catraca e não contesta.
forjar consciência na massa é o que resta.
panfleto na central do brasil, cinco horas da tarde,
e enquanto isso pensar como o sistema é covarde,
por que um milhão vai voltar apertado e sofrido
mas nem todo mundo sabe ler o que tá escrito.
e aí, José? e agora?
se acabou o tempo
e cê não acabou a escola.
todo menino é um rei
antes de cheirar cola
e resolver na bala o que resolvia na bola.
pés descalços na apressada candelária,
pés de vento pra malandragem centenária
cobrando a conta da chacina a vera,
roubando a vera de forma precária.
e quem há de entender os órfãos do massacre?
já que o doutor não acredita na luta de classes,
conta essa história pros menores do DEGASE
ao ecoar de "UPP, É O CARALHO, CUMPADI!"
embaçado, José? pois é.
não tem mais bucolismo nem Drummond Andrade.
tem gente que se abstrai da realidade
mas eu me materializo ela na arte.
eu escrevo a poesia que a favela me ensinou
se eu estivesse em Ipanema falaria do amor
mas eu lírico pra mim é o Freddy Krugger
correndo da PM nesse filme de terror.
domingo, 28 de agosto de 2016
quarta-feira, 24 de agosto de 2016
tenho vontade
de agarrar a liberdade
finalmente,
e simplesmente por fim
a minha dor.
tenho vontade
de andar pelo interior das mazelas
do meu povo,
e de ver cada rosto,
de ouvir cada história,
de chorar cada morte.
mas me ressalto,
e tanto medo tenho de ser livre,
e me libertando sozinho,
tornar-me só.
e me resigno,
pois sendo simples parte de mim
não pode ser simples o fim
da minha dor.
me desanimo,
no desalinho da minha vida,
pois caminho no interior de mim mesmo
e me perco.
tenho medo,
e tanto, tanto medo,
de ver um rosto e não lembrar,
de ouvir uma história e não viver,
de ver a morte e não chorar.
tenho medo
do álcool que me é
companhia perigosa
toda noite,
tenho medo do câncer,
que uma hora ou outra
me acometerá.
mas medo tenho,
acima de tudo,
de mim mesmo,
e da minha capacidade inútil
de ser livre
mas não saber
para onde ir.
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