quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Bem-vindo à máquina

O primeiro passo
de um conjunto de passos caóticos.
preso ao labirinto
e as tendências da cidade.
há quem diga que este tempo
empobrece o homem,
eu não discordo,
mas quem sou eu?
quem é tu?
preso a esta lógica
por uma conta bancária,
todos os homens podem ir
aonde quiserem,
mas todos vão ao trabalho.
voltam trazendo dinheiro e ferrugem,
se tornam menos livres,
mas podem ter celulares.

cansado, não olho o relógio
que esquenta e me queima o pulso
o sol me diz que são meio dia
minha pele e o concreto
derretem e se misturam,
expondo a feiura do homem e da rua,
impregnada nos ossos e nas vigas.
comprei muitas coisas
mas não vivo melhor,
algumas me parecem bonitas,
as ostento no pulso,
são pequenas mentiras
que eu me permito contar.

preto e comunista,
não fui bem-vindo
quando cheguei à máquina.
causei uma disfunção,
fui reprimido.
hoje me olham com olhos
de fera ferida,
mas as íris não brilham.
o espírito do progresso está caduco
e todos os olhos têm cataratas.

sou o câncer e a flor,
e alimento esse fogo no coração dos pequenos
ando caótico, pobre e cansado
mas ainda sou a juventude do mundo.
contradigo o rumo da história.
ao filho do beco, da caixa de ferramentas,
do Morro da Mangueira
a palmatória não foi
o único professor na vida.
e da maternidade ao cemitério
o tempo é o chão de fábrica,

"Olá, meu filho!
bem-vindo à máquina".

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