Dias azuis precedem nuvens
negras
Dias cinza nada querem
dizer
O motor avança alto na
avenida
Ao seu lado o progresso
azul
A opulência, o arrojo
Os muros altos azuis
As paredes e as luzes
através das janelas
Os vestidos das senhoritas
Os carrinhos de bebê
Até as calçadas, as
árvores, os olhos
Dia azul, tudo azul.
A esquina funciona feito
vírgula
Ou como o vento que trás
as nuvens
Que tiram a graça do
pique-nique
Que matam o sentido do
riso.
A segunda parte da avenida
É um grande “porém”
a primeira,
Do outro lado um rosto
enrugado
Uma tempestade nos olhos
Obstinadamente frágil
A pele rija de frio é a
pele negra
Suja de suor e poeira
Impregnada de si mesma
Em meio ao lixo cata latas
Velha, pobre, ostracionada
Nuvens negras, tudo
escuro.
Eu meio a isso estou eu
Como deveria estar?
Com o pensamento em meu
destino
Em meu progresso
Planejando um belo dia
azul que nunca acabe
Eu deveria estar cinza
Mas não estou
Dias cinza nada têm a
dizer.