terça-feira, 12 de março de 2013

A canção da solidão

E se tiveres um dia
Centenas de amigos híbridos
Sem cor, Sem religião
Sem coração como tu és
Ainda assim se encontrarias
Na mais completa solidão algumas vezes

Pois a única semelhança entre nós
É que a solidão nos habita nas diferenças
E nos afeta estando perto
Nos faz chorar estando longe

E se em algum dia qualquer
Ao escrever a tua hagiografia
O hagiógrafo esquecesse dias como o de hoje?
Dias no deserto da própria alma
Num jejum e tentação imensuráveis
Dias que só tu viveste e não contara a ninguém
Agradece hoje que não há hagiógrafo nem caneta
E que não és santo algum
E nem mesmo está morto
Porém o deserto da alma está lá
Ele existe para santos e pecadores

Pois quem nunca pensou
Em cantar uma canção
Num dia de profunda solidão
Só pra ver se alguém canta junto.

Eu sou a ponte

Eu sou a ponte. Eu sou o cabo que alimenta a realidade de motivos para viver, o mundo de motivos para não acabar. Eu sou o aparelho que transmite a beleza em sua forma mais pura, o amor em sua forma mais leve, a dor em sua forma mais grave.
Eu estou para os românticos como para os céticos estão os cientistas. Espalhando verdades estranhas para quem quiser acreditar.
Eu vivo num tempo distante de um mundo que nunca existiu, mas que muita gente vai visitar. Uns pela beleza, outros pela doçura, pelo torpor, pela ilusão que habita o lugar... Ícaro falou do seu céu e hoje é considerado louco. Camões e Pessoa devanearam por suas ruas, cambalearam pelas calçadas. E alimentaram mentes como as nossas desse torpor.
Poetas loucos. Loucos poetas.
Eu sou um rio que transborda, a arte me fez assim, inundando de palavras que eu não sei de onde vem. Eu sou um rio que não sei pra onde vou. Um mensageiro de mensagens sem remetentes que vem para pessoas que eu não sei quem são e que nunca vão me encontrar em lugar ou tempo algum.
A poesia é o caos transcrito pela caneta, polido pelo poeta. Não há poesia sem caos. Não há poesia sem que algo brigue em mim para existir. O ódio, o amor, a dor e a verdade tomando forma material. A matéria tomando forma sentimental. A forma elementar da vida humana. 
Eu sou a ponte!