terça-feira, 25 de setembro de 2012

Quem é você?

Você que me olha e não vê
Você que me vê e não repara
Você que me repara para julgar
Você que me julga sem perguntar
Você que pergunta, mas não escuta.
Você que escuta, mas não pensa.
Você que pensa, mas não age.

Você que se perde no turbilhão de acontecimentos da humanidade. Um anônimo numa das esquinas sem nome do mundo. Separado, junto... Solitário na solidão da multidão. Vitima do bater de asas de uma borboleta no Japão.

Você que já foi Vossa Mercê, vosmecê
E agora não sabe quem vai ser
(Quem sabe só 'cê'?)

Você que tropeça na solução
Mas só encontra problema

Você precisa parar de me olhar e se ver.
Afinal,
Quem é você?

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Uma constelação de estrelas cadentes

[...] E algumas vezes, no ultimo clarão da noite, ela abria os olhos e olhava pelo buraco no vidro da janela de madeira apodrecida e empoeirada. Fisgava um pedaço da lua, às vezes uma nuvem esfumaçada e via as estrelas imaginando as coisas que um dia ela teria amado se tivesse mais tempo. 
Tentava lembrar como era o amor, tentava um distante vislumbre do rosto da mãe ou da barba do pai roçando-lhe a testa. Mas sempre que estavam próximas estas lembranças se escondiam em uma cortina densa de fumaça, um cigarro logo era batido por um punho de ferro. E quando a fumaça se dissipava eram olhos de fogo que lhe sorriam triunfantemente, uma boca com um hálito fétido de cebola e cigarros salivava sobre seu corpo, doentia, mastigando seus sonhos e engolindo seu coração.
Nessa hora àquela dor entre as coxas se intensificava, - quase insuportável - as lágrimas inundavam seus olhos e ela perguntava quem era Deus e porque ela merecia aquilo - pensamentos inocentes demais para um adulto e pesados demais para uma criança -. Ali chorava por horas, até que o dia lhe sorrisse ironicamente e a luz fustigasse seus olhos ressecados, ela os fechava e esperava que o sono lhe tirasse para dançar.
Entre um pulo assustado para fora de um pesadelo e um suspiro dolorido e silencioso ela sonhava com o céu da noite anterior. No sonho ela sentava no colo do pai e contava as estrelas do céu, inventando nomes para todas que ela não conhecia. Ele sempre ia embora no final, e ela sempre se desesperava quando se via sozinha naquele céu negro. As estrelas despencavam aos montes e apagavam a luz. Seu coração apertava e ela acordava sem ar, tendo a certeza que aquelas estrelas que caiam eram seus sonhos de sobreviver àqueles dias.
Sonhos quebrados. Uma constelação de estrelas cadentes.