quinta-feira, 24 de junho de 2010

Poeta, caneta, tristeza, papel

Eis que estão aí, os dias difíceis deste mês
Em todos eles me flagro pensando em você
Eu ainda sinto teu gosto em meus lábios
E o espaço do teu corpo continua entre meus braços

Você chegou em um momento tão sóbrio, e me trouxe
A sublime incoerência do amor, e eu sinto
Algo sombrio nesta folha seca, enquanto
Ela absorve o calor moribundo das minhas palavras
E absorve a umidade nociva das minhas lágrimas,
Decifra e registra-me
Com a tinta preta que dá poesia, textura e forma a tristeza

E a caneta profana o papel...
... E o papel mata aos poucos a caneta.

Em cada linha desta folha tem mais
Um pouco sobre eu e você,
Mais um pouco sobre o amor, o sonho e a decepção
Mais um pouco de dor em um coração.

Doce alucinação, deixe o amor escrever em seu coração
As coisas que ele quiser, doce ilusão
Que faz a caneta, a profanadora,
Vitima do papel que a consome, assim como
Você que desperdiça minha essência, e todo resto que tenho por dentro...

... A respiração de amor que te espera adormecido,
Sobre uma sublime paciência.

domingo, 20 de junho de 2010

Um pensamento solto sobre o mundo

É estranho que as pessoas, muitas vezes, olhem para o céu quando lhes ocorre uma desgraça.

Quando o destino as atinge com algum infortúnio, de força natural ou não. Parece-me que procuram nas estrelas ou nas nuvens do céu azul claro ou escuro uma resposta para sua dor, sua angústia, quando essa resposta está dentro de si próprio, em uma natureza humana autodestrutiva.

Aos mais pobres entende-se que por “pobreza” de recursos e cultura, não tem a dimensão do poder destrutivo dos homens ou da natureza e procuram em seus deuses suas respostas. Mas para os bem entendidos, digamos assim, aqueles que pregam o progresso, o crescimento, a manutenção de um estilo de vida, de uma ordem social, para os grandes magnatas do petróleo ou fabricantes de carro. Para esses é estranho se falar em fatalidade, em acaso, ou vontade divina. Esses têm plena dimensão das fronteiras entre o humano e o divino, e por egoísmo, ganância ou “amor” ao progresso mantêm essa postura irresponsável perante as situações.

Outra hipocrisia é a idéia que a televisão passa sobre aquecimento global, ou buraco da camada de ozônio. A expressão “salvar o planeta” por exemplo, muito usadas nas chamadas comerciais “bem intencionadas” de nossas empresas, dá uma idéia de que é o planeta que está morrendo, que vamos fazer algum favor a ele. Na verdade, somos nós quem está morrendo, quem está ficando sem casa, ou sem alimento. Refugiados do clima é a expressão do futuro, pois não é o planeta quem vai mudar, somos nós, ou se nossa capacidade de adaptação não for mesmo enorme como diz a ciência, vamos entrar em extinção, a palavra assusta mas é verídica e coerente em tais situações. A Terra, nossa Terra como batizamos, não é nossa, e já existia bem antes de nós, e bem antes de nós se aqueceu e se resfriou, e se aqueceu e se resfriou novamente até que tivesse condições para a nossa vida.

Portanto, bem antes de destruirmos o planeta, ele nos cuspirá para fora dele. Se aquecerá e se resfriará, e se aquecerá de novo até que uma nova civilização de uma nova espécie possa se organizar em um novo mundo, quem sabe de forma mais inteligente e justa que nós para uma nova odisséia. Assim funciona o universo, e ele existirá mesmo após o fim do mundo.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Luta de classes

Palavras ricocheteando nas paredes da mente

Enquanto o frio enrijece os corpos

Smokings finos encharcados de vinho

E em algum lugar, pessoas emboladas como caracóis

Envolvidas sem lençóis ao frio e desalento

Ignorando cada detalhe que difere o papelão de uma cama



Do banco do ônibus comparo as diferentes noites

Em uma noite só, do banco de couro

As sarjetas úmidas, frias e cheias de gente

Gente pobre, indigente, quase gente...

Poeira, frio, cachimbo, fumaça

Um trago na desgraça e o menino vira rei.



Do lado de cá da fronteira,

Da linha imaginária que define a miséria

Alguns brilhantes e glórias, histórias

Perambulando pela rua, na volta

Do rico passeio noturno

Risadas, palavras,

Ao taxista foram generosos como fidalgos

São raros, distintos.



Acompanho a trajetória boemia

Enquanto penso na população daquela esquina

Comparo as vidas perante as estrelas

As noites são outras, o mundo é ambíguo



Se bem que há vezes que os mundos se cruzam

Se amarram, se quebram

As fronteiras caem por terra e se tornam

A linha sensível que separa as vidas

A luta de classes continua e as frases

Continuam a ricochetear,

E os fatos continuam a matar...



... a matar assaltante,

A matar assaltado.

domingo, 6 de junho de 2010

Quem está entre nós?

Poetizando em uma sala escura,
Sozinho
Sem som, sem cor
Só preto.
Não vejo nada, então
Imagino,
Relembro,
Mastigo.

Converso com Deus,
Ele é diferente para mim
Ele é indiferente comigo,
Sou um assunto inerente
Aos seus planos divinos.

Sou a ovelha negra,
Sou aberração,
O pequeno monstro sem mãe.

Me vejo novamente em um sonho
Sigo pedalando um “camelo”
No caminho
Dois amores,
Um pai morto,
Um soldado de Deus,
Um exército inteiro...

... uma flor é pisada por um deles,
Uma linda flor é pisoteada
Por milhares.

Um homem morre
A guerra continua,
Era meu pai
Onde ele está agora?
(Com Ele) brada um deles,

Morreu jovem,
Solitário, e
Crente.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

A neblina da manhã















Neblina...
Onde acaba a montanha?
Onde começa o céu?
Alguns só esperam os primeiros raios de sol (que se esconderam)
Eu os aguardo com caneta e papel.

E vejo
Pontas de cigarro queimando na escada,
Vidros embaçados,
Ruas ressecadas,
Vidas dobradas em mochilas amassadas.

E minha vida?
Ela se enruga com a preocupação em seu rosto
E aqui meus olhos se embaçam também (ao tentar te ver)
E eu apenas te imagino,
E te quero bem.

Confesso,
Te imaginei ao meu lado ontem a noite
Não pude evitar,
Ganhei uns momentos contigo na madrugada por sonhar,
Perdi teu corpo pela manhã ao acordar.

Me vejo perdido,
Te vejo em todo lugar,
Você não me guia para lugar nenhum,
E eu espero você me guiar,
E deixo a neblina baixar.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Caindo em cinzas

Comecei muito bem
Agora estou caindo
Deus me ignorou
Por que ignorei o céu

Fico com uma suas lágrimas
e um gosto de você
Me esvazio de fumaça
Limpo as nuvens dos meu olhos

Diamantes são para sempre
e meu amor também é
um diamante de sangue
consumindo minha mente.

Seus passos eram duros
seu caminho era o contrário
ao meu e aos meu sonhos
e nós estamos caindo.

Estou no meio do conflito
A batida e a poesia
o poeta e a sua musa
nunca mais serão os mesmos.

O sentimento é passageiro?
Mas o momento é para sempre
estranhamente intenso
sua presença é um dever.